O Barquinho Cultural

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sexta-feira, 15 de maio de 2009

Blue noite


Como adiantei aí embaixo, nesta quinta-feira (14/05/2009) fui à abertura do Bridgestone Music Festival 2009, em sua segunda edição em São Paulo. A primeira, ano passado, foi dedicada à world music e, esta, ao jazz e ao soul, em três noites no Citibank Hall. A noite de ontem, 14, teve o Robert Glasper Trio e a Jimmy Cobb's So What Band, homenageando os 50 anos de lançamento do visceral álbum Kind of Blue, de Miles Davis.

O pianista Robert Glasper, acompanhado de Vicente Archer (baixo) e Chris Dave (bateria), mostrou por que é chamado de "astro do piano em ascensão". O cara tem 29 anos, toca desde os 12 e é senhor de uma técnica impressionante. Passeia os dedos pelo teclado como se nascesse fazendo aquilo. E o som é límpido, pulsante, bem balançado. Flerta com vários ritmos e casa com perfeição com seu acompanhantes, que também têm seus momentos solo para brilhar em particular. É um rapaz muito simpático e moderno, que deve escrever seu nome no panteão dos grandes músicos de jazz e quem sabe até fazer escola. Ambição e ousadia para tal ele tem.
O sexteto de James Cobb já trouxe uma formação mais veterana, a começar pelo próprio baterista que participou da gravação do Kind of Blue e é o único músico vivo daquele disco. Aos 80 anos, mostrou total vigor e pleno domínio do instrumento, o qual executa com precisão e elegância.

Os outros músicos, na casa dos 40 a 60 anos, também demonstraram ser feras em sua arte. As músicas do cinquentenário disco foram executadas bem mais aceleradas que na gravação original, e com muito improviso, o que não é de estranhar, em se tratando de jazz. É incrível como eles levantaram a galera, como o suingue que saía de seus instrumentos fazia a gente vibrar. A hora passou e nem me dei conta; quando vi era o fim, aí o bis e a consagração final.

Eles se comunicaram pouco com a platéia, mas a performance foi de verdadeiros lordes, e a audiência respondeu com a devida reverência e o respeito que músicos dessa categoria merecem. O trompete de Wallace Roney não envergonharia Davis. Um sopro doce e preciso, com nuances sutis que até faziam às vezes lembrar o grande Miles, mas havia ali a personalidade desse garoto de Philadelphia.

Acompanhando-o na cozinha estavam Vincent Herring, no sax alto, e Javon Jackson, no sax tenor. Os três se revezavam nos solos, às vezes os três juntos, ou aos pares, costurando as frases perfeitas de Larry Willis, mestre no piano, e Buster Williams, no baixo personalíssimo. Realmente, uma noite para não esquecer. E um autopresente bem escolhido.

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