O Barquinho Cultural

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terça-feira, 26 de maio de 2009

Viva o cinema novo



A Folha de S. Paulo traz hoje reportagem informando que o cine Marabá, na avenida Ipiranga, quase esquina com a São João, será reinaugurado nesta sexta-feira, reformado, com sua enorme sala de mais de 1.600 lugares fracionada em cinco salas menores, dentro do conceito multiplex que impera nas salas de exibição há pelo menos uma década. O Marabá é um dos últimos cinemas de rua resistentes na cidade de São Paulo, ao lado de outras salas que decaíram para a programação pornográfica e outras que viraram templos religiosos ou bingos. Fechado em 2007 para a reforma, conduzida por Ruy Ohtake e Samuel Kruchin, tombado pelo patrimônio histórico municipal, este cine sempre me impressionou quando eu andava por essa região. É um prédio de dimensão superlativa mesmo, com suas colunas de mármore, suas franjas na fachada. E o interior. Enorme, em seus áureos tempos com revestimento de ouro, poltronas vermelhas, um saguão interminável. É do tempo em que ir ao cinema era um programa chique, as pessoas iam com suas roupas de gala, como se fossem à ópera ou ao concerto. Bem, claro que eu não vivi esse período, mas nem por isso deixei de me sentir como que ingressando em um santuário ao ir ver algum filme lá. Não me lembro quantas vezes fui ao Marabá, nem quais filmes assisti, porque era mais comum eu ir a algum cinema em minha região mesmo, o ABC, onde também havia bons cinemas de rua na época de minha infância e adolescência. Nada contra cinemas de shopping, que têm o conforto adequado a um público que gosta desses templos de consumo exatamente por isso. Mas esses cinemões faziam a gente ver a sétima arte como isso mesmo, arte, não mero entretenimento. As telas eram enormes, fazendo o filme nos envolver e tornar a experiência algo que mexia com quase todos os sentidos. Nunca me esquecerei de Os Dez Mandamentos, com Charlton Heston no papel de Moisés, no cine Comodoro, da São João, com sua telona de 70 milímetros. A abertura e travessia do Mar Vermelho foi uma visão que duvido que terei outra similar. Assim como o barulhão em perfeito dolby surround do Terremoto - não me lembro em que cinema, talvez no próprio Marabá, ou no Vitória, em São Caetano. Agora outra lembrança boa é a do filme Embalos de Sábado à Noite (sim, eu vi, e quem não viu?), acho que no Comodoro também. Saí do cinema convicto de que eu era o próprio Travolta e no primeiro baile que fui sábado já estava devidamente trajado de camiseta de manguinha arregaçada e cabelo penteado pra trás com topetão. Agora, quanto à dança, melhor nem falar. Era gostoso ir ao cinema em São Paulo, parecia que estávamos recebendo um banho de civilização, um upgrade social, quase caipiras que éramos. E o bom também é que, com um ingresso apenas, a gente podia assistir a quantas projeções quisesse. Eu, às vezes, quando não tinha nada para fazer, entrava no cinema de manhã e só saía à tarde. Quando o filme era bom, claro. E havia ainda as sessões duplas, com dois filmes correlatos, por exemplo, dois western ou dois de aventura. Claro que isso acabou, mas ainda há a possibilidade de se ver o Noitão no HSBC Belas Artes, em uma sexta-feira do mês, com três filmes e ao final um lauto café da manhã. Eu frequentei os noitões que eram realizados pelo antigo cineclube Oscarito, na praça Roosevelt, mas não havia breakfast (porém sempre tinha alguém vendendo café e sanduíches). Assisti lá a uma maratona espetacular de filmes e vídeos dos Beatles, a uma noitada com filmes de vampiros, outra de Hitchcock. Fechado em 1991, o Oscarito hoje abriga o teatro Os Satyros. O Comodoro virou igreja, ou bingo, nem sei. O Vitória é uma casa de shows e baladas. Agora, tristeza mesmo me deu quando fui ver que fim levou o antigo cinema que eu frequentava no bairro do Ipiranga, o Imperador, na rua Brigadeiro Jordão, perto da igreja. Vi uma infinidade de filmes lá, muitas vezes cantando o lanterninha para nos deixar entrar em filmes cuja idade mínima eu não alcançava. Algumas vezes, iniciada a projeção, ele abria a portinha lateral e deixava eu entrar, de graça! Esse cinema, vi recentemente, não teve nem a honra de abrigar um bingo ou um templo religioso. Está vazio, abandonado, sujo, largado, abrigo de sem-teto e depósito de coisas inservíveis que as pessoas insensíveis teimam em largar ali dentro. Leio em um site que chegou a funcionar uma metalúrgica lá, mas dessa fábrica não resta nem um vestígio. Outro cinema que eu frequentava no Ipiranga, o Anchieta, na rua Silva Bueno, onde assisti ao primeiro A Fantástica Fábrica de Chocolate, virou um estacionamento. Portanto, dentro dessa realidade tão triste dos antigos cinemas de rua, o renascimento do Marabá, ainda que sob o estilo multiplex, merece ser muito comemorado. Com certeza estarei lá. Uma Noite no Museu 2 é uma boa opção, não?

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