O Barquinho Cultural

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Trinta anos da estrela

  • Nesse último dia 10 de fevereiro o Partido dos Trabalhadores completou 30 anos de fundação. Eu não poderia deixar de fazer um registro a respeito, uma vez que vivenciei sua formação e até trabalhei para uma administração e para seu diretório nacional. Estávamos nós, do grupo Tupi (Teatro Unido Popular Independente), em plena atividade, na temporada de nossa única montagem, A Invasão, de Dias Gomes (adaptada pelo grupo), quando o Grana, o mais novo da rapaziada, veio me falar da ideia de o "movimento" organizar um partido político, aproveitando a abertura que permitia o fim do bipartidarismo (até então, havia apenas a Arena e o MDB).
  •  Eu estranhei aquilo, não fui a favor, achei que ia desmobilizar todos os movimentos sociais que havia, canalizados todos para a atividade partidária. Bem, se isso aconteceu ou não, não posso dizer com certeza, mas no microcosmo do qual eu participava vi o teatro desaparecer, e nossos integrantes passarem a ser militantes do partido. Mais tarde, na primeira eleição, em 1982, eu fiz fileira no núcleo que se formou no meu bairro, a Vila Palmares, em Santo André, e fizemos campanha.
  •  Foi uma campanha bem diferente, com as ilustrações bonitas de Hércules nos muros em vez de pichações comuns, com abordagens de "conscientização" em vez de apenas jogar santinhos e panfletos nas ruas, trazendo pessoas para debates e conversas no núcleo.
  •  Foi um tempo muito bom; saía da faculdade e ia lá para as atividades, geralmente sempre de noite, para a polícia não pegar (lembre-se, era 1982, a ditadura ainda estava de plantão). Algumas vezes tivemos mesmo de correr das baratinhas (os fuscas da polícia) e largar baldes de cola e cartazes pela calçada.
  •  Da chapa que apoiávamos, que ia de governardor (Lula) a vereador, conseguimos eleger o vereador do bairro, o médico sanitarista Fernando Galvanese, que viria a ser secretário de Saúde assim que foi eleito prefeito o Celso Daniel, em 1988. Antes, fizemos novamente a campanha de reeleição do Galvanese e ele foi novamente ocupar a cadeira na Câmara.
  •  Era um tempo até meio ingênuo, pelo menos para mim, novato em política, e recém-saído do Exército, onde a doutrina era de ser contrário a tudo que cheirasse a oposição. O partido, nesse período, era um ambiente de formação política, onde conversávamos com pessoas mais experientes e tarimbadas nos meandros da política, que sabiam tudo de campanha, sementes ali plantadas que depois germinaram e deram no que deu.
  •  Eu confesso que nunca imaginei que o partido fosse chegar à Presidência, não por incompetência de seus quadros, mas por achar que a ordem estabelecida não permitiria, afinal, estavam aí 20 anos de golpe militar para desanimar. Mas o pessoal era aguerrido e teimoso e realmente acreditava nessa possibilidade.
  •  1985 veio confirmar essa possibilidade, com a conquista da prefeitura de Fortaleza, e, em 1988, de outros governos importantes, como os de São Paulo, Santo André, São Bernardo, Campinas e Porto Alegre, entre outros.
  •  Em 1989 vou trabalhar na Prefeitura de Santo André, na Assessoria de Comunicação, atendendo diretamente a Secretaria de Saúde, cujo titular era, como disse, o Galvanese. Foi uma ótima oportunidade de ver como funciona um governo por dentro e de poder pôr em prática alguma coisa que a militância tanto clamava.
  •  Foi e é difícil. As forças que atuam na sociedade são muitas vezes antagônicas e nem sempre basta boa vontade para conseguir implementar uma boa ideia. Deu para ver o que é realmente a política na prática, eu que a conhecia até então apenas no discurso e na teoria, apesar de ver como as coisas eram na realidade, no dia a dia.
  •  Apesar disso, os dois mandatos do Celso consecutivos tiveram muitos êxitos. Em 1995, com a derrota do PT na prefeitura, acabei exonerado, num esforço da administração do PTB em anular o concurso que eu tinha feito e que permitiu minha contratação.
  •  Voltei a ter contato direto com o partido em 1996, quando fui trabalhar no seu diretório nacional, para atuar no grupo de trabalho eleitoral. Passadas as eleições, trabalhei no projeto de um jornal nacional, o ptnotícias, que acabou saindo quinzenal, quatro páginas em formato standard. Acho que esse jornal nem existe mais, mas foi bom fazê-lo, apesar de todas as dificuldades que enfrentávamos, de falta de pessoal, de recursos. Mas o pior era atender a todas as tendências agrupadas no partido, sempre havia alguém que reclamava da linha de determinada matéria, por mais isento que eu procurava ser. Até o dia que me enchi e saí de lá, em 1998.
  •  Três anos depois o PT conquistaria a Presidência. Não lamento. Acho que de fora eu pude até acompanhar melhor o partido. O curioso, e que aí sim lamento, é que muitas vezes eu tentava ouvir algum dirigente para uma matéria e era uma dificuldade. O próprio Lula nunca consegui entrevistar lá. Agora, quando fui trabalhar num jornal comercial, esse pessoal falava comigo sem frescura. Até com o Lula cheguei a ter rápida entrevista. É... santo de casa não faz mesmo milagre.
  •  Bem, a sensação que tenho, passados esses 30 anos, é que o PT que vi nascer e esse que está aí há oito anos no comando do País guardam muitas diferenças, mas também bastante semelhanças. Mas eu também mudei muito minha cabeça, minha maneira de pensar. Nunca fui um radical, sempre um moderado, e esse PT está mais para o que eu sou hoje do que aquele que cresceu com um discurso feroz e visceral, gritando contra coisas que eu nem entendia direito, como  Fora FMI.
  •  Mas, de maneira geral, não me sinto partícipe desse projeto, porque em determinado momento de minha vida optei por guardar certa distância, por não me sentir dentro do perfil de um militante típico ou um quadro partidário.
  •  Acho que é porque sempre preferi a liberdade de pensar da maneira que quisesse e tinha pouca vontade de defender meu ponto de vista. Ou seja, fui coerente com meu pensamento inicial, quando o amigo falou-me desse projeto que completa agora a terceira década. Então, feliz aniversário, companheiros!

2 comentários:

Anônimo disse...

Amigo Carlos Mercuri (Boga)…delicioso foi o ‘degustar’ de sua matéria ,eu o conheci na Palmares ,na formação do Grupo de Jovens,qdo nasce o Tupi. Viajei no tempo ,quanto clareza vc tinha de tudo mesmo naquela época .Orgulho de te-lo como amigo e muito com vc(s) ter aprendido
Grande abraço

Carlos Mercuri disse...

Opa, muito obrigado, amigo. Só gostaria que se identificasse. PT Saudações!